Nilson José Machado
Professor de
Didática da Matemática da USPA LEITURA, A ESCRITA, O LUXO
Ler, escrever e contar é o que
deveria resultar dos estudos escolares, diziam nossos avós. No antigo Egito, a
leitura era ensinada a todos, mas o ensino do cálculo não era generalizado e a
escrita era destinada apenas aos filhos das classes dominantes. Em Roma, os
escravos que conduziam tais crianças à escola eram chamados “pedagogos”. Em
latim, paidòs
é criança, e agogòs,
condutor. Os pedagogos aprendiam a escrita para poder ajudar as crianças em seu
aprendizado. Hoje, é incompreensível uma dissociação entre a leitura e a
escrita. A expressão de si e a compreensão do outro são competências
complementares. Ler é fundamental para seguir regras com consciência, mas a
expressão pessoal é vital, e a escrita é essencial para isso. A oralidade
esvanece, a escrita permanece. Animais comunicam-se oralmente; a peculiaridade
do ser humano reside na escrita. É preciso ler e compreender o mundo, mas, na
escola da vida, temos que assinar o livro de presença. Decididamente, a escrita
não é um luxo.
Fonte: Disponível em: http://nilsonjosemachado.net/mileuma.html.
Acesso em: 17 maio 2013
Rubem Alves
Educador,
escritor e teólogo
A literatura é
um processo de transformações alquímicas. O escritor transforma - ou, se
preferirem uma palavra em desuso, usada pelos teólogos antigos, “o escritor
transubstancia” – sua carne e seu sangue em palavras e diz a seus leitores:
“Leiam! Comam! Bebam! Isso é a minha carne. Isso é o meu sangue!”. A
experiência literária é um ritual antropofágico. Antropofagia não é
gastronomia. É magia. Come-se o corpo de um morto para se apropriar de suas
virtudes. Não é esse o objetivo da Eucaristia, ritual antropofágico supremo?
Come-se e bebe-se a carne e o sangue de Cristo para se ficar semelhante a ele.
Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que devorei... E se escrevo é na
esperança de ser devorado pelos meus leitores.
Fonte: ALVES, Rubem. A
beleza dos pássaros em voo. In: ___________. Na morada das palavras. 3. ed.
Campinas: Papirus, 2003. p. 66.
Antonio Candido
Crítico
literário e ex-professor de Teoria Literária na USP
As produções
literárias, de todos os tipos e todos os níveis, satisfazem necessidades
básicas do ser humano, sobretudo através dessa incorporação, que enriquece a
nossa percepção e a nossa visão do mundo. [...]. Em todos esses casos ocorre
humanização e enriquecimento, da personalidade e do grupo, por meio de
conhecimento oriundo da expressão submetida a uma ordem redentora da confusão.
Entendo aqui
por humanização (já que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa
disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de
penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade
do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a
quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos
para a natureza, a sociedade, o semelhante.
Fonte: CANDIDO, Antonio.
Direitos humanos e literatura. In: ______. Vários
escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004
Newton Mesquita
Pintor
Da mesma forma como coloca
sua alma nas imensas e maravilhosas telas que pinta, o arquiteto e artista
plástico Newton Mesquita busca, na literatura, uma comunhão com o universo
revelado pelo autor:
"Quando você vê um
quadro e gosta muito, a sensação é a de que aquela imagem sempre esteve dentro
de você. Com o texto é a mesma coisa: aquilo toca na sua essência e detona
tantas ideias e fantasias que se torna parte de sua vida", explica.
A leitura e a música são
fundamentais na vida desse prestigiado artista:
"Se eu pudesse ter
mais duas profissões, gostaria de ser músico (já toquei piano em boates durante
alguns anos) e de escrever muito bem, como o Rubem Fonseca", declara.
Os livros me
fascinam. Antigamente, quando eu era moleque, eles me pegavam pelas histórias,
porque me davam a possibilidade de ir a outros países, conhecer outras
civilizações, outras pessoas, ver como elas viveram, o que pensaram,
descobriram e escreveram. Fui criado muito sozinho, e os livros eram meus
companheiros. A leitura, nessa fase, é uma ginástica para a imaginação. Você
fica imaginando os lugares, as situações, os personagens – alguns
tornavam-se amigos íntimos meus. Meu filho se chama Pedro por causa do Pedrinho
do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Fonte:
Depoimento feito ao site da Livraria Cultura em 2004.
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